Meia da seleção brasileira aprendeu com os pais e primos a jogar futebol desde criança. Aos 23 anos, jogadora disputa primeiro Mundial pelo Brasil
Foi de Ary Borges os primeiros gols do Brasil na Copa do Mundo Feminina disputada na Austrália e Nova Zelândia.
O primeiro saiu com a meio-campista aproveitando cruzamento de Debinha aos 18 minutos do primeiro tempo e acertando cabeçada certeira na partida contra o Panamá, disputada nesta segunda-feira, em Adelaide, solo australiano. O primeiro gol da seleção veio de uma das atletas-símbolo do trabalho de Pia Sundhage e gerou duas reações diferentes em um curtíssimo espaço de tempo: emoção, com choro ajoelhado no gramado, e alegria, com direito a dancinha com Kerolin.
A dança de comemoração teve uma homenageada: Marta. A coreografia foi ensaiada no almoço por Ary e Kerolin, que geralmente lideram a "onda de danças" da seleção brasileira.
A festa de Ary Borges apenas reservava algo maior. Aos 37 minutos, a meio-campista acertou nova cabeçada depois de cruzamento de Tamires, mas só comemorou ao aproveitar rebote da goleida dentro da pequena área.
Incentivo dentro de casa
Para uma menina jogar futebol é sempre uma batalha. Para algumas, a luta começa dentro de casa, com a família reprovando a escolha. Mas a meia Ary Borges, de 23 anos, teve uma experiência diferente. Criada no meio da família, com primos homens e com um tio apaixonado pelo esporte, ela aprendeu bem de perto como amar futebol. E isso a levou à sua primeira Copa do Mundo.
— Tive muita sorte por ter uma família que me apoiou. Meus tios sempre gostavam de jogar futebol, então sempre achavam legal em ter uma menina que gostava de jogar. Sempre me protegeram em questões de "ah, Ary não vai jogar porque ela é menina", meus primos sempre me defenderam com unhas e dentes.
Ary é natural de São Luís, no Maranhão, mas mudou para São Paulo aos 10 anos. Foi criada pela avó na infância e só conheceu os pais quando chegou na capital paulista. Os pais mudaram para a cidade para tentar uma vida melhor. A atacante conta que a mãe chegou perto de ser uma atleta. Mas foi o pai que conquistou a filha ao levá-la aos campos de futebol.
— Meu pai conta que queria um menino para jogar futebol com ela, então amou ser uma menina que amava jogar futebol. Meu pai foi uma pessoa muito ativa no processo. Depois que a gente se conheceu, ele me levava para jogar. Acordava cedo para me levar. Descobriu o Centro Olímpico, meu clube formador. Minha família foi um diferencial muito grande.
Saída de São Luís
Os pais, os primos e os tios foram ponto importante para Ary Borges escolher a profissão dos sonhos. Mas foi a avó que cuidou da pequena atacante e deu a liberdade que precisava para jogar com os garotos na infância. Deixá-la, aos 10 anos, foi o primeiro momento difícil da vida da jogadora.
— Eu fui criada pela minha avó, desde que nasci ela participa desse processo. Mas aos 10 anos eu tive que sair e ir para São Paulo morar com os meus pais e esse processo foi muito difícil pra mim. Ela tinha sofrido um acidente doméstico e eu podia cuidar dela, mas meus pais me queria em São Paulo. Sai da minha zona de conforto para ir para uma cidade muito maior. Foi o maior desafio.
A fase de adaptação não foi tarefa fácil. Ary não conhecia os pais, mas o futebol entrou como ponto principal desse novo elo de afeto que estava sendo criado.
— O futebol me ajudou muito, porque quando venho para São Paulo e conheço meu pai, ele começa a me conquistar me levando para o estádio. Começou a ter essa relação. Ele me fez gostar do esporte e o futebol me ajudou nessa relação com os meus pais e em ter algum elo.
Experiência e juventude na Seleção
Ary Borges disputa a primeira Copa do Mundo da carreira. Ela faz parte da renovação proposta pela técnica Pia Sundhage. Mas, apesar de onze estreantes, o elenco está equilibrado com jogadoras experientes, como Marta, Bia Zaneratto e Tamires. A meio-campista considera o que é o que a seleção precisava para o mundial.
— Temos um grupo que consegue levar o nosso dia a dia em uma leveza muito grande. Temos uma mescla muito boa entre as meninas mais novas, cheias de energia, e a meninas que conseguem dar uma segurada na gente quando precisa. Estar na seleção é uma pressão muito grande e o grupo conseguiu deixar todo mundo a vontade para não ter uma pressão a mais.
A Seleção está no Grupo F. Depois da estreia desta segunda contra o Panamá, a equipe joga contra a França, dia 29, em Brisbane, e Jamaica, dia 2 de agosto, em Melbourne.
Por Dannyellen Paiva — Belo Horizonte para GE.
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